sábado, 16 de junho de 2012

A barbárie do hooliganismo no mundo futebolístico

Por Fabio Ramos

A violência nos estádios têm se tornado, cada vez mais, constantes. Um local que antes era de lazer, para se ir com a família, curtir um simples e apaixonante esporte, está sendo transformado em um cenário de batalhas campais entre hooligans. O maior prejudicado com isso é, sem dúvida, o próprio futebol. 

Esse tema parecia esquecido, mas durante a UEFA Euro 2012, reapareceu, em mais um episódio lamentável, em que, horas antes da partida entre Polônia e Rússia, um confronto entre torcedores deixou mais de 20 feridos. O hooliganismo, na Europa, não é novo. Em 1880 já se observavam alguns casos de violência ocasionados por multidões em jogos de futebol. 

“O que temos a ver com o hooligan? Quem ou o que é responsável por seu crescimento? Toda semana, algum incidente deixa claro que determinadas zonas de Londres são mais perigosas para o transeunte pacífico do que (...) clássicos refúgios de bandoleiros. Todo dia, em algum tribunal, são narrados detalhes de atos de brutalidade, cujas vítimas são homens e mulheres inocentes. (...) Não há como não olhar sem inquietação, contudo, para a insistente recorrência de explosões de violência por parte de marginais. (...) Nossos hooligans vão de mal a pior. (...) Não obstante, o hooligan constitui uma odiosa excrescência de nossa civilização”.

Trecho do jornal The Times, do dia 30 de outubro de 1890


O termo hooliganismo, que designa a violência organizada e premeditada nos espetáculos desportivos, surgiu nos anos 1950 na Grã-Bretanha. Os hooligans são grupos, predominantemente de jovens, sem organização explícita, onde a participação é determinada pela sua vulnerabilidade social, procurando compensar a sua baixa perspectiva social por meio de excitação e identificação.

A violência no futebol pode ser entendida como uma intervenção social simbólica dos jovens na tentativa de desenvolverem a sua identidade diferencial, tal como o aparecimento de vários grupos, na Inglaterra, como o “Teddy Boys”, “Mods”, “Skinheads”. Já em Portugal, o fenômeno das torcidas organizadas surgiu no final da década de 1970.

A juventude oriunda da classe operária que submetida à pressão da sociedade de consumo a qual não pode responder por falta de meios e de perspectivas futuras, constrói a sua própria "subcultura" em que a masculinidade e a dureza vão acompanhando a luta e a violência, constituem meios de afirmação do indivíduo e do grupo, o que podemos caracterizar como fazendo parte do aspecto dessa subcultura da juventude, entendido como produtos de forças estruturais: classe social, trabalho, desemprego, raça e gênero. O hooliganismo era o resultado do colapso geral da autoridade britânica e da ineficácia das diferentes instituições socializadoras, Família, Escola, Igreja.


O futebol pode proporcionar ao torcedor a única área em que sentem que sua participação é eficaz: hoje eles vaiam e amanhã o técnico é dispensado. Os torcedores não são espectadores passivos, influenciam o resultado das partidas e a administração de seus clubes, os torcedores brasileiros acham que pagam aos jogadores do seu próprio bolso, com seu dinheiro escasso e tão arduamente conquistado. Essas torcidas formam grupos, cobram mensalidades, vendem camisas, chaveiros, flâmulas e tudo que puderem fazer dinheiro, virou também um comércio e, como todo comércio, para ser rentável precisa de uma propaganda positiva.
               
No Brasil, não é muito diferente. A “única” mudança é que, aqui, os torcedores são chamados de “organizados” e não de “hooligans”. Um dos grandes objetivos das torcidas uniformizadas é ser respeitada. As torcidas usam slogans que incitam a violência. A Torcida Jovem do Flamengo, por exemplo, denomina-se "O Exército Rubro-Negro" e tem um tanque de guerra como símbolo. A Força Jovem do Vasco formou suas Famílias, buscando inspiração na velha máfia italiana. Existem outras, como: Núcleos de Young Flu (Fluminense), Esquadrões da Jovem do Botafogo e Comandos da Raça Rubro-Negra (Flamengo).  A declaração feita por Marco Fábio Freitas, vice-presidente da Independente do São Paulo, demonstra o espírito atual da torcidas organizadas: "Com torcidas, não tem aquele negócio de discutir para depois brigar. Encontrou o inimigo, é porrada".

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