Felipe Gier
O dia que Dorival voltou a ser tratado como Júnior
Amigo blogonauta, ouvinte do Nova Esportes. Estou estreando hoje como colunista do blog, e, incrivelmente, não tenho outro assunto a comentar a não ser a saída de Dorival Júnior, da equipe do Santos Futebol Clube.
Já estamos em 22 de Setembro e, torcedores de outras agremiações, inclusive corintianos, que vêem o time líder, diga-se de passagem, com méritos até aqui, ainda lerão, ouvirão, verão muitos assuntos relacionados ao time da Baixada Santista e ao astro da companhia, o mesmo dos penteados moicanos, topetes estilosos, recusas milionárias de clubes do exterior para seguir atuando no Brasil, o MAIOR de idade, Neymar Júnior, 18. O “menino da Vila” franzino, que desde cedo, já se inspirava em Robinho alternou bons e maus momentos durante a temporada.
O ano ainda não terminou, mas do 1º semestre até início de agosto “Quem deu a bola foi o Santos”, na capital com a conquista do Campeonato Paulista e em território nacional com a inédita Copa do Brasil conduzida por Dorival Júnior, capitaneada também pelo garoto já citado, além de Paulo Henrique Ganso, outro xodó dos santistas, e, brasileiros de forma geral, considerado "bom moço" pela opinião pública e pelos torcedores.
O corintiano pode até ficar bravo mais uma vez com o texto, até por que hoje tem Santos e Corinthians e poucos tem exaltado o bom momento vivido pelo primeiro colocado da competição; mas nem a ausência fenomenal e grandiosa de Ronaldo e a presença confirmada no clássico, às pressas, de Neymar, somada à queda de Dorival Júnior, mexeu e muito com a discussão ética sobre o tema.
Para repercutir rapidamente, alguns fatos que mereceram destaque do "menino" Neymar, durante o ano de 2010: pedidos clementes dos torcedores brasileiros por sua presença e do meio-campista Paulo Henrique Ganso, seu companheiro desde a base, na seleção de Dunga, não atendidos, gol em todos os clássicos contra rivais paulistas, com direito à paradinha diante de Rogério Ceni.
Até ai seu problema se resumia a “infernizar” os adversários, como no caso do zagueiro Chicão do Corinthians ou do volante Marcinho Guerreiro, do Avaí chapelados pelo jovem ídolo com o lance parado, este último, defendido por Antônio Lopes, então técnico do time catarinense, que diz ter seus jogadores ofendidos pelo “Milionário da Vila”.
A partir da recusa de Neymar, Robinho, André e Ganso em adentrarem um centro espírita na cidade de Santos, os problemas dentro e fora de campo, os caprichos e desejos do "Menino da Vila" começaram e se acumularam: Chegada mais tarde na concentração dele, Madson, André e Ganso, após aniversário do primeiro da lista, briga do garoto prodígio com jogadores do Ceará e confusão instalada ao final da partida válida pelo Campeonato Brasileiro, em Fortaleza, e, claro, o episódio que culminou na saída de Dorival, o “Júnior”, troca de farpas, palavrões e outras palavras de baixo calão entre o jovem astro da equipe de Vila Belmiro, seu treinador e o capitão e zagueiro Edu Dracena, durante a partida contra o Atlético-GO.
Em reunião na noite desta terça-feira, após diretoria e técnico terem acordado um jogo de suspensão para Neymar e mais 30% de desconto em seu (polpudo) salário, inflacionado após a recusa do jogador santista em aceitar proposta do Chelsea, Dorival agiu como um “Júnior” na visão da cúpula do alvinegro praiano – aconselhado por outros treinadores e seu auxiliar - e resolveu estender por pelo menos mais um jogo, o desta noite, contra o Timão em casa, a suspensão do garoto.
Bom lembrar que Neymar ainda pode ser suspenso por até nove partidas pelo incidente no Nordeste. Outra opção, aventada pela diretoria santista, era suspender por tempo indeterminado o treinador, até este se cansar e pedir para sair, o que evitaria o pagamento de sua multa de R$ 2 mi. Em anúncio oficial na manhã desta quarta, a diretoria santista diz que o técnico recusou o pagamento da quebra de contrato, o que facilitou sua saída.
Desde o final da noite desta terça-feira, pulularam boatos e versões sobre os fatos, mas com tudo que nos é apresentado, ficam algumas perguntas no ar:
Ainda existe hierarquia no futebol? Quem é o mandatário do clube: diretoria, técnico ou jogador? Um atleta com salário na casa de R$ 300.000 tem mesmo mais poder do que seu treinador, com rendimentos semelhantes? O retrospecto de Dorival foi jogado por água abaixo após um 1º semestre vitorioso, em que ele se mostrou complacente com as caprichosas escapadelas dos “Meninos da Vila”? A diretoria que se mostrava ousada desde a manutenção de seus principais astros (PH Ganso e Neymar), após conquistar tudo que disputou no 1º semestre, se desencontrou de vez?
Estas são só algumas das muitas questões que cercam o comportamento ético de cartolas, jogadores e treinadores de futebol. Tudo isso, no dia (em que na visão da diretoria santista), Dorival voltou a ser tratado como “Júnior”.
PS: Para mim, o Corinthians pode se sair bem na Vila Belmiro. Tudo dependerá do fator psicológico do time da casa após este entrevero às vésperas do dérbi.