quinta-feira, 19 de abril de 2012

Menino eu fui

Reprodução

Por Alisson Matos


O sol reinava em absoluto.

Pés descalços e polidos, com o tempo, pelo asfalto.

Nas faces, expressões ingênuas,

Nas mentes, sonhos de aventura.

Para a metade, o uniforme era a ausência da camiseta.Para os outros, nem a necessidade de uniformes havia.

A arquibancada, na imaginação, deixava qualquer grande estádio com inveja.

A torcida?

Toda a vizinhança, presente na rua e ausente no espetáculo.

A bola rolou…

Se iniciava uma arte em que pés, pernas e corpos se cruzavam.

A pelota, límpida, dava o tom.

Ora tratada com maestria,

Outrora, de tão maltratada, procurava se vingar acertando vidraças alheias

O objetivo da gurizada era só um, fazer o gol.

Tarefa nada fácil nas traves que, quando chiques, eram pomposas havaianas surradas pelo passado.

Entre os garotos, alguns se destacavam.

Sussurros eram proferidos, “esse teria futuro”.

O incentivo vinha acompanhado do fim da ilusão.

Preferiam conviver com o mito da incerteza.

O 0×0 persistia

E a angústia aumentava

Vencer, ali, seria como ser campeão do mundo.

A partida era disputada com a seriedade dos utópicos.

Lá pelas tantas, aos 45 minutos do segundo tempo, que nas ruas se caracterizam pelos gritos de “venha tomar banho, moleque”, saiu o sofrido, lamentado e inesquecível GOL.

O autor comemorou como se estivesse dando a volta olímpica no Maracanã.

Correu para os torcedores que estavam mais preocupados com o almoço de logo mais.

O dono da bola se ausentou.

Com ele, foi a eterna parceira e a certeza do próximo adversário: o chuveiro.

Para os demais, ficou a sensação de que a epopéia (com acento mesmo, assim como nos meus tempos de criança) não acabava ali,

Pois, para eles, o ludopédio não tem início nem fim.

É, somente, uma das várias maneiras de sonhar.

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