Foto: Blog do Wanderley Nogueira |
Por Alisson Matos
Corria o ano de 1998.
E eu via, com os olhos de uma criança de dez anos, a Copa do Mundo da França.
E me encantava, afinal, era o primeiro mundial acompanhado da inseparável consciência de que já entendia e podia, por assim dizer, discutir com os mais velhos.
Lembro-me que todo jogo da seleção brasileira era uma festa.
Na minha casa, família e amigos se reuniam a cada partida e mantinham viva a esperança do sonhado penta.
Escrete marcante de Taffarel, Cafú, Aldair, Júnior Baiano, Roberto Carlos, Dunga, César Sampaio, Leonardo, Rivaldo, Ronaldo e Bebeto. Sem Romário, cortado dias antes do início da competição, fomos de Zico que auxiliava o técnico Zagallo.
O galinho era um capítulo à parte. Residência de flamenguistas, as atenções eram voltadas a ele, eterno ídolo que é.
No entanto, o ex-camisa 10 rubro negro carregava o peso de ter perdido em 1978, 1982 e 1986 as chances de vencer uma Copa do Mundo.
O mito da falta de sorte era sempre lembrado.
“O Zico é azarado. Jamais foi campeão mundial com a seleção”, proferia meu pai entre um jogo e outro.
Mas era só a bola começar a rolar que o desesperançoso começava a acreditar que, desta vez, seria diferente.
O time de Zagallo fez uma boa primeira fase.
O que era esperado.
Venceu a Escócia, o Marrocos e perdeu, já classificado, para a Noruega.
Nas oitavas, o Chile como adversário.
E os 4x1 fizeram o fanático alertar:
“Sabia que passaríamos, mas o Zico é azarado.”
O desejo era sobreposto à crença.
Na fase seguinte, vieram os dinamarqueses, o 3x2 suado e a expectativa, que só aumentava.
Na verdade, meu velho pouco se importava com a seleção e com a festa.
O que ele queria, mesmo, era, enfim, ver seu maior ídolo no esporte campeão da competição.
A Holanda veio na semifinal e a vitória nos pênaltis o fez lembrar da derrota, no México, em 86, para Platini e companhia.
Passada a laranja mecânica, a convicção de que o azar passara longe, agora, era evidenciada a cada discussão.
Então, chegou a final. E, com ela, o dilema do desmaio do camisa 9.
O que fora certeza e virou expectativa tornou-se, mais uma vez, tragédia e pesadelo.
3x0 para a mesma França, que via nascer um ídolo, um craque, um gênio.
Na TV, a imagem de Zidane, de Petit, Barthez e do presidente Jacques Chirac.
Na sala, meu pai, triste e agarrado às suas convicções, reverberava:
“Não disse? O Zico não nasceu para vencer uma Copa.”
Passaram-se alguns anos, mais precisamente oito, e, com a esperança revigorada, lá estava o velho a torcer pelo galinho, que no Mundial da Alemanha treinava os japoneses.
Ao fim da Copa de 2006, título para a seleção italiana e nada do eterno camisa 10 levantar a taça.
O sonho ficara para as próximas Copas.
Quem sabe um dia se realize.
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