A Copa do Mundo é nossa!

Por Fabio Ramos

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Estão felizes, por estarem recebendo o maior campeonato de futebol do mundo? Nossa como o Brasil é importante!

O estranho é que o único estádio que, aparentemente, estava mais preparado para receber um jogo da Copa do Mundo, o Morumbi, não será utilizado e, por isso, fomos “obrigados” a construir um completamente novo. Nas obras do “Fielzão”, “Itaquerão”, ou seja lá qual for o nome desse novo estádio, serão gastos, aproximadamente 420 milhões de reais, fora as reformas dos outros estádios Brasil a fora. Muito dinheiro não?

Sabem o que poderia ser feito com todo esse dinheiro? Poderiam ser construídos 787 UBSs (Unidades Básicas de Saúde), ou 420 creches, que beneficiariam, aproximadamente, 50 mil e 400 crianças, ou, ainda, 100 escolas de ensino médio, com capacidade para 700 alunos cada.

Mas o Brasil não precisa de nada disso, o melhor mesmo é construir um estádio, mexer com a paixão do brasileiro, o futebol, para que os problemas do país possam ser “encobertos”.

Além disso, parte da verba, necessária para bancar a copa no Brasil, virá dos cofres da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), beneficiária dos polpudos patrocínios da seleção brasileira. Mas os gastos com a infraestrutura nas cidades onde acontecerão os jogos – construção de estádios, obras em estradas, aeroportos e sistemas de telecomunicações – correrão por conta do estado, ou seja, serão bancados com dinheiro público.

E, segundo decreto publicado pela presidente Dilma Rousseff, no Diário Oficial da União, o país concederá à Fifa, isenção total de impostos federais para bens e serviços relacionados à Copa das Confederações de 2013 e à Copa do Mundo de 2014. Com isso, os dirigentes ficam livres, inclusive, da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), cobrada na importação e comercialização de combustíveis. A isenção abrange de alimentos a material de escritório.

Para piorar, vejam, isso ainda piora... A Fifa ameaçou cancelar a Copa caso o país não aceite todas as suas exigências. Após isso, o Congresso Nacional começou a discutir a Lei Geral da Copa, criação de um verdadeiro regime especial, paralelo e sobreposto à legislação em vigor no país.

A lei trata de exclusividades e privilégios de que a Fifa deve gozas – desde o estabelecimento do preço dos ingressos, vistos de entrada no país para competidores e espectadores, exclusividade no marketing e na transmissão dos eventos e até a tipificação de novos crimes e novas varas para julgá-los.

De acordo com estas leis, por exemplo, nos chamados “locais de competição”, que incluem, não apenas os estádios, mas também todos os locais onde ocorrerão as transmissões de partidas com ingressos pagos, áreas de “lazer” destinadas aos fãs, localizadas, ou não, nas cidades que sediarão as competições, a Fifa e as pessoas por ela indicadas terão exclusividade de venda, distribuição e propaganda de produtos, inclusive nas vias de acesso a estes chamados “locais de competição” e suas imediações.

Em suma, para poder sediar a Copa, por quase dois meses, passaremos a ser geridos pelas “leis da Fifa”, entidade privada, com um currículo nada marcado por valores como lisura, ética, democracia ou respeito aos direitos humanos.

Traduzindo para o português claro, a Fifa – com o apoio das autoridades “competentes” – podem decretar “territórios Fifa” Brasil afora, onde só funcionarão pontos de venda Fifa, onde valerão apenas suas regras de segurança, onde, por exemplo, o sujeito que inserir o símbolo da Copa na sua cadeira de praia para alugar poderá ser preso, julgado e encarar de três meses a um ano de prisão.

Além disso, se você pensa que todos poderão comprar ingressos para ver os jogos, coitado, você está enganado. Os ingressos, além de caros, serão sorteados, isso mesmo, SORTEADOS pela internet! Haverá postos da Fifa distribuídos pelas cidades, onde o torcedor terá de se cadastrar no site e concorrer por um ingresso (Concorrência de 3 torcedores para cada 1 ingresso, aproximadamente), ou seja, para assistir um jogo da Copa será preciso, além de muita grana, muita sorte.

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 Para finalizar, essa Copa de 2014 servirá, apenas, para uma coisa, entreter a população que, em sua maioria, não poderá assistir a nenhum jogo do mundial. Enquanto isso, diversos problemas do país continuam sendo encobertos... Bom pão e circo.