sábado, 23 de junho de 2012

Muito prazer, Boca Juniors

Por Fabio Ramos

No dia 3 de abril, de 1905, cinco adolescentes, filhos de italianos, estavam prestes a criar um dos mais vitoriosos clubes de futebol do mundo. Vizinhos ao bairro de trabalhadores imigrantes, “La Boca”, Esteban Baglietto, Alfredo Scarpatti, Santiago Sana e os irmãos Juan e Teodoro Farenga, reuniram-se para analisar a proposta, feita pelos três primeiros e logo aderida pelos irmãos Farenga, de se criar um clube de futebol. Enfim, nasci.
Durante o período pré-profissional do Campeonato Argentino, eu conquistei sete títulos. Após minha profissionalização, em 1930, passei por alguns altos e baixos. Se nos anos 40, conquistei meu segundo bicampeonato na era profissional, nos anos 50, foi apenas um título, em 1954. Porém, na década de 60, a mais vitoriosa da minha história em termos nacionais, ganhei os campeonatos de 1962, 1964, 1965 e 1969, ano em que venci também a Copa Argentina. Nos anos 70, comecei a escrever minha história internacional no futebol.


Após conquistar os título nacionais em 1970 e 1976, venci a Libertadores por duas oportunidades. A primeira, em 1977, derrotando o Cruzeiro na final, que só foi decidida nos pênaltis, após empate por 0 a 0 no terceiro jogo. Já em 1978, entrei na competição na segunda fase, devido ao título no ano anterior, e na final derrotei o Deportivo Cali, após empate sem gols na Colômbia, por 4 a 0 na Argentina. Depois de um longo jejum, em 2000, consegui levantar novamente o caneco da Libertadores, dessa vez em cima do Palmeiras, que havia sido campeão no ano anterior, mais uma vez nos pênaltis, após empatar por 2 a 2 na Argentina e sem gols no Brasil. No ano seguinte, conquistei o bicampeonato, em cima do clube mexicano Cruz Azul, novamente nos pênaltis, depois de vencer por 1 a 0 fora de casa e ser derrotado em plena “La Bombonera” pelo mesmo placar. Em 2003, consegui me vingar da equipe de Pelé e voltei a ganhar a competição, dessa vez sem sufoco, em cima do Santos, agora de Robinho, vencendo na Argentina por 2 a 0 e no Brasil por 3 a 1. Por fim, meu sexto e último título da competição continental foi em 2007 diante do Grêmio, onde venci nos dois jogos (3 a 0 na Argentina e 2 a 0 no Brasil).
Com o vice-campeonato em 2002, deixei escapar a chance de igualar o recorde do, também argentino, Independiente, que conquistou um tetracampeonato seguido (1972 a 1975) e é o maior vencedor da Taça Libertadores da América, com sete títulos, um a mais que eu. Na verdade, o Independiente soube aproveitar muito bem um elenco forte, em uma época onde os times brasileiros, por exemplo, não davam a mesma importância para a competição. O meu mérito foi similar, mas com uma diferença, quando virei o “papa-títulos” da Libertadores, o torneio já havia se transformado na obsessão dos brasileiros, muito em virtude da projeção que o São Paulo, bicampeão em 1992 e 1993, voltou a dar ao torneio pelo Brasil. Pela décima vez na minha história, igualando a marca recorde do Peñarol (URU), estou na decisão da Libertadores e serei adversário do Corinthians, que chega à final pela primeira vez em sua história.
O retrospecto do Corinthians quando me enfrenta não é nem um pouco animador. Em quatro partidas disputadas entre nós, o time de Parque São Jorge jamais venceu. Foram duas vitórias a meu favor, ambas na Argentina, e dois empates, em São Paulo. Os primeiros encontros aconteceram justamente pela Libertadores, nas oitavas de final de 1991. Na qual venci em casa por 3 a 1 e empatei no Pacaembu por 1 a 1.
Atualmente, sou o maior vencedor de títulos internacionais oficiais de todo o mundo, com 18 conquistas, empatado com o Milan, da Itália, que também tem 18 triunfos internacionais. Em campeonatos argentinos, sou o segundo maior vencedor, com 26 conquistas, seis a menos que meu grande rival, River Plate. Sou a equipe mais popular da Argentina, amada por 40% dos 35 milhões de argentinos. Além disso, já eliminei equipes brasileiras em competições sul-americanas em 13 oportunidades, Cruzeiro (1977, 92 e 2008), Atlético-MG (1993), Corinthians (1991), Flamengo (1991), São Paulo (1993 e 2006), Palmeiras (2000 e 2001), Vasco (2001), Paysandu (2003), Santos (2003), São Caetano (2004), Inter (2004 e 2005), Grêmio (2007) e Fluminense (2012), e só perdi uma, para o Santos de Pelé, na final de 1963.
Para quem não me conhecia, cá estou eu, o adversário do Corinthians na final da Libertadores 2012. Muito prazer, Boca Juniors.

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