quinta-feira, 5 de abril de 2012

Os males que movem o mundo chegam ao futebol brasileiro

Montagem/Reprodução


Por Alisson Matos


Um dos pilares que sustentam o futebol é a democratização que o esporte proporciona. Não há, ou não deveria haver, distinção de raça, credo, sexo e classes econômicas. Uma mola propulsora capaz de mudar o destino de milhões de crianças que, envolvidas e apaixonadas pelo simples ato de chutar uma bola, veem suas vidas se tornarem algo que jamais poderiam imaginar.


Eis que, agora, após cinco Copas do Mundo e nos consolidarmos como o país do futebol, os célebres dirigentes que, há anos, fazem esforços hercúleos para enriquecerem suas próprias contas bancárias, se aliaram para extinguir de vez a última chance de se ter um esporte justo, igualitário e competitivo no Brasil.


A debandada de agremiações do Clube dos 13 explicita o que há de mais cruel na essência humana, a ganância e o individualismo. Pensar em si próprio não é pecado, todavia só pensar em você mesmo beira o absurdo. O discurso individualista do capitalismo não permite a evolução. E é essa tal lei de Murici, na qual é cada um por si, que colocará o futebol brasileiro entre os que se limitam a dois, três, quatro times que brigam pelos principais títulos.


A discrepância entre os valores oferecidos pela Rede Globo para Flamengo e Corinthians, por exemplo, em relação aos oferecidos ao Botafogo, ao Grêmio, ao Fluminense e ao Cruzeiro é lamentável. E, pior do que a oferta, são os dirigentes aceitarem tamanha diferença. Teremos os donos das duas maiores torcidas do Brasil com receitas invejáveis. Ambos caminharão nas nuvens das glórias, enquanto os demais, hoje, ainda, considerados grandes, cairão juntos na sarjeta dos times médios e pequenos do país.


Claro que houve uma evolução em relação às receitas de anos anteriores, mas, evidentemente, essa não era a solução. Os problemas do mundo, nem os do futebol, serão resolvidos com mais dinheiro. E, no fundo, todos sabem disso. O esporte mais popular do planeta, no Brasil, caminha a passos largos para o que acontece em muitos países europeus. Na Espanha, raríssimas vezes o título nacional escapa de Barcelona e Real Madrid, pois a diferença de receitas, somada à incompetência de alguns dirigentes, tornam os dois clubes praticamente imbatíveis na longínqua península ibérica. Em Portugal, idem. Exclui-se o Porto, o Benfica e o Sporting, quem sobra? Na Inglaterra, Manchester United, Liverpool, Arsenal e, agora, o Chelsea são os manda-chuvas do país em que o futebol fora inventando.


Tudo isso, óbvio, são previsões do que pode ocorrer por aqui e, ainda bem, elas só existem para que sejam desmentidas. Torço que eu esteja tão certo quanto a Mãe Diná. E, tomara, que os clubes brasileiros se unam e negociem, juntos, uma forma mais justa de distribuição de receitas. Acreditar na união de times, para o bem de todos, em terras tupiniquins, é utopia. O que se perderá com tamanha covardia é imensurável. Mas como bem disse, certa vez, Telê Santana, “O futebol brasileiro não é para gente séria”. E ele, profeta e sério que era, prova-se hoje, tinha razão.

Nenhum comentário: