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Por Alisson Matos
O relógio badala seis vezes
O domingo, como os demais, começara cedo
O uniforme, a postos, está pronto, desde sempre, para ser usado.
A bola, ao lado da cama, fora colocada minuciosamente no dia anterior.
Camiseta, calção, caneleira e a chuteira deixam de ser instrumentos de caracterização e passam a compor uma liturgia quase divina.
O jejum, pelo esforço físico que está por vir, será mantido até o fim do duelo.
O alongamento e o bocejo vêm acompanhados num mesmo diapasão.
O aquecimento é feito logo ali, no seu vestiário particular: o apertado espaço entre a sala e a cozinha.
Já vestido e com a pelota debaixo do braço, um beijo na testa da esposa, que ainda dorme, anuncia o"até logo”.
No caminho, a imaginação vai longe.
Do campinho de terra batida aos maiores templos do ludopédio mundial.
Lembra dos craques, dos gênios e dos ídolos.
Imagina jogadas, gols e comemorações.
Quando chega ao lugar reservado ao seu espetáculo, a saudação é muito bem vinda
É verdade que muito mais pela pelota do que por sua presença.
Dono da bola é também dono do jogo.
As equipes são, com muito esmero, selecionadas.
E, para seu azar, não faltara ninguém.
Sequer vaga no gol, posição mais do que aviltada no futebol de várzea, tinha.
Restou-lhe, somente, o apito.
No máximo, ouvirá algumas palavras de baixo calão dirigidas a ele e a sua genitora.
O sonho de marcar um golaço, de novo, fora adiado.
Quem sabe, se tiver sorte, para o domingo que vem.
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