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Por Alisson Matos
O sol reinava em absoluto.
Pés descalços e polidos, com o tempo, pelo asfalto.
Nas faces, expressões ingênuas,
Nas mentes, sonhos de aventura.
Para a metade, o uniforme era a ausência da camiseta.Para os outros, nem a necessidade de uniformes havia.
A arquibancada, na imaginação, deixava qualquer grande estádio com inveja.
A torcida?
Toda a vizinhança, presente na rua e ausente no espetáculo.
A bola rolou…
Se iniciava uma arte em que pés, pernas e corpos se cruzavam.
A pelota, límpida, dava o tom.
Ora tratada com maestria,
Outrora, de tão maltratada, procurava se vingar acertando vidraças alheias
O objetivo da gurizada era só um, fazer o gol.
Tarefa nada fácil nas traves que, quando chiques, eram pomposas havaianas surradas pelo passado.
Entre os garotos, alguns se destacavam.
Sussurros eram proferidos, “esse teria futuro”.
O incentivo vinha acompanhado do fim da ilusão.
Preferiam conviver com o mito da incerteza.
O 0×0 persistia
E a angústia aumentava
Vencer, ali, seria como ser campeão do mundo.
A partida era disputada com a seriedade dos utópicos.
Lá pelas tantas, aos 45 minutos do segundo tempo, que nas ruas se caracterizam pelos gritos de “venha tomar banho, moleque”, saiu o sofrido, lamentado e inesquecível GOL.
O autor comemorou como se estivesse dando a volta olímpica no Maracanã.
Correu para os torcedores que estavam mais preocupados com o almoço de logo mais.
O dono da bola se ausentou.
Com ele, foi a eterna parceira e a certeza do próximo adversário: o chuveiro.
Para os demais, ficou a sensação de que a epopéia (com acento mesmo, assim como nos meus tempos de criança) não acabava ali,
Pois, para eles, o ludopédio não tem início nem fim.
É, somente, uma das várias maneiras de sonhar.
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