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Por Alisson Matos
Pensar o futebol sem os clichês entre o céu e o inferno, a glória e a derrota e o herói e o vilão é tarefa quase impossível nos dias hodiernos. Faz parte do esporte o tal antagonismo, a superação e a necessidade de incorporar atributos de tragédias e superações como quem relata a trajetória do herói mitológico que desce ao báratro e volta para refazer sua própria história.
O esporte mais praticado no mundo é, na verdade, uma grande repetição. Algo cíclico, que no Brasil ganha um viés preocupante. Os exemplos ganharam os holofotes nos últimos dias.
A renúncia do Ricardo Teixeira, desde 1989 no comando da CBF, por exemplo, representa muito mais do que a queda de um ditador. Significa a manutenção da esperança que, se em outros lugares, é a última a morrer, por aqui quase virou múmia pronta a ser sepultada.
Outra notícia curiosa fora a saída iminente de Adriano do Corinthians. Um alto investimento, de retorno questionável, aliado ao comportamento anti-profissional, obrigou o clube a optar pela lógica, deixá-lo livre para procurar outro ambiente.
E o futebol brasileiro segue seu rumo, sem direção alguma, pois na CBF, José Marín, que o passado diz por si só, é o substituto do genro de João Havelange. E se o clube detentor da segunda maior torcida do país fechou as portas ao imperador, o Flamengo fez questão de abrir, oferecendo sua estrutura para a recuperação do jogador. Nada mais conveniente para aqueles que lutam em prol da mesmice, do mais do mesmo.
Tão evidente quanto a reformulação necessária na Confederação Brasileira de Futebol – e aqui não vão receitas de sucesso, nem regras que devem ser seguidas tão óbvias que são – é o reconhecimento de que o problema do Adriano extrapola as quatro linhas, já que se tornou caso de saúde pública. E nem cabe a nós qualquer conclusão, pois o vício não requer julgamento.
O que precisamos é de uma nova mentalidade, voltada à modernidade e sob a égide dos dias atuais. É inconcebível e incompreensível ainda não termos entrado nessa nova era que já está em pleno curso. Algo que seria até natural, mas que por aqui se torna inviável.
De fato, não dá pra entender o Brasil e o seu futebol, um lugar em que mudança significa manutenção. Buscar esclarecimentos é garimpar no seco. E tudo continuará como está, alegria de poucos e passividade de muitos.
Compreender é enlouquecer.
Como escreveu alguém, certa vez, talvez nem Freud explique o país da gente bronzeada.
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