Por - Fábio Sinegaglia
Uma questão permeia o futebol: Treinador de futebol é Professor? A resposta para essa pergunta já invadiu os bancos escolares das Faculdades de Educação Física e invade as redações dos Meios de Comunicações diariamente. Talvez duas definições sobre a ciência de ensinar e aprender nos ajude a responder a questão. A primeira é de Rubens Alves “Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais...” e a segunda cada vez mais difundida em salas de professores: Aluno é um ser à procura de conhecimento, de uma luz, e que os professores são os responsáveis por essa emissão de saber, ou seja, dessa luz. E ainda o Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa define Professor é “aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, uma técnica, uma disciplina; mestre... Homem perito ou adestrado...”.
Ao meu ver se usarmos as duas definições acima e a definição do dicionário fica claro que o treinador não é professor, pois certamente a luz de um craque não é dada pelo treinador e sim um dom divino que permite a genialidade de um craque, e ainda, são raros os casos em que um treinador é considerado pelo jogador o responsável por sua magia com a bola.
No Brasil o fator que mais separe o professor da sala de aula com o professor “técnico de futebol” seja o salário, enquanto um tem um salário na casa dos 400 mil reais o outro tem um salário de 1.100 reais por uma jornada de 22 horas semanais. Porém para um professor de primário alfabetizar um aluno tenha o gosto de ganhar uma Copa do Mundo, se bem que dentro de nossa atual sociedade talvez seja mais fácil ganhar uma Copa do Mundo do que alfabetizar, pois a sociedade em que estamos inseridos não valoriza o conhecimento.
O que motiva o trabalho do professor é somar algo na vida de alguém e deixar exemplos para seus alunos, pois queiram ou não, o professor deve ser espelho para os seus alunos, porém atualmente não vejo nenhum técnico de futebol somar nada na vida de ninguém e nem ser esse espelho, a classe de treinador tem em geral vida curta nos clubes por onde passam e muitas vezes sem comprometimento com o trabalho, os objetivos previamente traçados são prontamente deixados de lado em função de uma proposta salarial ou ainda em função de um outro clube que lhe seja mais interessante no momento.
Vejo dois casos nos últimos vinte anos no qual um treinador se portou como professor dentro do que definimos aqui. O primeiro foi Telê Santana que no começo dos anos 90, onde montou um belo time com garotos, time esse que foi duas vezes campeão do mundo, mas além de se preocupar com os resultados e com os títulos, Telê se propôs a transformar aqueles meninos em verdadeiros homens e profissionais de futebol. E para esse sucesso de Telê no São Paulo a diretoria deu o total respaldo para o treinador. O segundo caso ocorreu esse ano quando o Dorival Jr. tentou dar limites aos meninos da Vila Belmiro, porém deste feita o treinador não teve o respaldo e acabou perdendo o cargo no Santos, porém fico na dúvida de quem perdeu de verdade neste caso, se foi o Dorival ou o Santos e os meninos. Alias em um futuro próximo o perdedor deve ser o Santos e os meninos. Porém o que fica desses dois exemplos do futebol, é que tanto na bola como na escola os professores carecem de respaldo para construir algo, e algo muito importante, construir e desenvolver o ser humano.
Acho que não devemos ter o treinador de futebol como professor, porem adjetivar um treinador como professor não é um crime, apenas um forma carinhosa de considerar um profissional da bola.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
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2 comentários:
Muiot boa a matéria. Sou professora de Educação Fisica e acho um absurdo considerarem treinadores de futebol (que na maioria das vezes não colocaram um pé na universidade e não tem em seu curriculo cadeiras de licenciatura, como professores).
Aquela Lei Rei Pelé é uma polêmica sem fim.
De que adiantou eu passar 4 anos dentro de sala de aula para qualquer um que tenha gasnho alguns troféis quando atletas, terem o mesmo título que eu?
Enfim, vale pensar sobre o assunto.
Feliz dia dos professores!
Fabio
Parabéns pelo texto, concordo em número e grau: como professora e como amante do esporte.
Sábias palavras.
Um grande abraço.
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