Durante a minha vida, consegui conquistar o
coração de milhões de pessoas e, consequentemente, o ódio de outras tantas. Mas
isso nunca me incomodou, minha caminhada foi feita em meio a muitas
dificuldades e lutas, mas rendeu momentos inesquecíveis. Quem conhece minha
história sabe bem a razão e o motivo de tanto orgulho. Ela é rica, bela, cheia
de lutas, glórias e conquistas. Quem ainda não conhece, aprecie com moderação.
Tudo começou no dia 21 de agosto de 1898, quando
um grupo de quatro jovens, Henrique Ferreira Monteiro, Luís Antônio Rodrigues,
José Alexandre D’Avelar Rodrigues e Manuel Teixeira de Souza Junior, teve uma
grande ideia. Cansados de viajar a Niterói para remar, decidiram fundar uma
agremiação de remo local, que logo recebeu alto número de adoradores, um total
de 62 rapazes, em sua maioria, portugueses. Inspirados nas celebrações do
quarto centenário da descoberta do caminho marítimo para as Índias, ocorrida em
1498, me batizaram com o nome do heroico português que alcançara tal feito.
Sempre fui democrático, minhas cores (preto,
branco e vermelho), se encaixam na ideia de uma comunhão de etnias, já que
lutei contra preconceitos raciais e sociais nos anos 20 e fui o primeiro clube
a eleger um presidente “não branco”, Cândido José de Araújo, em 1904, reeleito
no ano seguinte. Meu pavilhão foi escolhido com o fundo preto, representando os
mares do Oriente, atravessado por uma faixa branca, inicialmente horizontal,
mas logo mudada para diagonal, representando a rota desbravada pelo almirante
português, com uma Cruz de Malta no centro, símbolo ostentado pelas caravelas
portuguesas da época dos "descobrimentos”.
Até 1915, fui exclusivamente voltado para os
esportes marítimos, como o Remo. Entretanto, no dia 26 de novembro, resolvi me
fundir ao Luzitânia SC, clube dedicado ao futebol e que, até então, somente
admitia portugueses em seus quadros. Após a fusão, tive que me filiar à Liga
Metropolitana para poder participar da temporada de 1916. Comecei, então, a dar
meus primeiros passos na Terceira Divisão. Começava ai a História de um dos
clubes mais importantes do futebol brasileiro.
Com mais experiência fui crescendo no mundo
do futebol, conquistando títulos e muitos admiradores. Em 1927, no dia 21 de
abril, construí minha própria casa, em resposta aos que tentaram barrar a
ascensão do time de negros e brancos pobres que estava conquistando a elite do
futebol carioca. A desculpa de que eu não possuía uma casa para receber meus
adversários caiu por terra quando, após uma memorável mobilização de
torcedores, foi erguido, em menos de 12 meses, um gigante, chamado São
Januário.
Enfim, com uma casa digna, comecei a me
acostumar com títulos. A década de 50 foi uma das mais vitoriosas da minha
história. Conquistei o campeonato carioca em quatro oportunidades (50, 52, 56 e
58), sendo o mais especial em 1958, onde foi preciso dois triangulares extras
contra o Flamengo e Botafogo para me tornar o "Super-super" campeão.
Esse título coroou um ano de ouro. Além de ser campeão carioca, venci o Torneio
Rio-São Paulo e, de quebra, forneci craques como Bellini, Orlando e Vavá para a
equipe titular da seleção brasileira que, pela primeira vez, conquistou a Copa
do Mundo, na Suécia.
Aliás, não só de títulos se faz uma história
digna. Um exemplo disso é meu maior tesouro, maior ídolo dos meus torcedores,
popularmente conhecido como Roberto Dinamite. Estreou em 1971 e tornou-se o
maior goleador da minha história com 702 gols, vestindo meu manto em 1110
oportunidades.
No ano de 1998 completei 100 anos e quebrei o
estigma de que os clubes fracassam em seus centenários. Naquele ano, conquistei
logo o título mais importante da minha atual geração, o da Libertadores da
América. Quem não me conhecia, passou a me temer. E quem já me conhecia, passou
a me invejar. Faltou pouco para conquistar o mundo. Mas nunca desistirei.
Em 2007, mais uma história do futebol era
escrita em São Januário. Romário marcava, no dia 20 de maio, seu milésimo gol,
de pênalti, contra o Sport. Ficando marcado como o segundo jogador brasileiro a
chegar a esta marca, igualando-se a Pelé. No ano seguinte, sofri o mais duro
golpe da minha vida, pensei que acabaria ali, que ninguém mais torceria por
mim. Eu me sentia envergonhado, era gozado pelos rivais. Mas a torcida se uniu,
me deram apoio, amor, e foram eles quem me trouxeram de volta. Nunca mais volto
pra Série B. Muitas vezes precisamos dar um passo para trás, para depois dar um
salto para frente. Foi o que fiz. Após o rebaixamento, sofri uma grande
reformulação que me possibilitou voltar ao cenário internacional, brigando por
títulos e conquistando-os, como a Copa do Brasil de 2011.
Sofri alguns duros golpes em minha vida, mas
jamais sucumbirei. Fiz a minha fama no futebol. Para quem não me conhecia,
muito prazer, Vasco da Gama.
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